segunda-feira, 13 de abril de 2009

A ignorância às vezes prevalece

Quando assentei praça na Armada para cumprir o serviço militar obrigatório, o que naquele tempo era exigido a todos aqueles jovens masculinos com vinte anos de idade, desde que tivessem as condições físicas de acordo com o Índice de Pignet (médico militar Francês).
No princípio tive algumas dificuldades de adaptação, dada a minha maneira de ser, agir, moral e por me guiar por um hábito ético-religioso muito diferente em relação à maioria dos meus camaradas sulistas. Pois, só por mostrar que era católico, poupado, não ir às discotecas, não beber uns shots em excesso, nem alinhar nos frequentes petiscos, por ser honesto, por dizer que não queria ser castigado militarmente e ainda por ser incapaz de fazer chacota de quem quer que fosse. Por tudo isto, fui muitas vezes atacado pelos mais ignorantes, que só viviam o presente e pelos mais pródigos.
Observei tantas distorsões e contradições de ordem ética à minha volta, pelo que se me afigurava que não iria integrar-me de ânimo leve neste ambiente militar. Pois, constatei que os meus camaradas regiam-se por um sentido materialista no presente sem se precaverem o mínimo como futuro.Os que eram mais pobres do que eu
e tinham este procedimento pródigo diziam-lhes queeram económico-mentais atrasados.
Lutei com firmeza contra todas as críticas dos mais lelos, nunca deixei de defender as minhas ideias e os meus princípios, de ser católico praticante e poupado. Sei que, por causa da minha conduta tão singular para eles, mas que era consentânea com a maneira de ser e previsão futura e por me esquivar sempre que podia às ondas que molhavam esses incautos. Que tudo isso me trouxe alguns prejuízos de carácter militar e muitos dissabores, mas não fui capaz de pactuar com eles em certas acções, atitudes imorais e mesmo desvios ás leis dos regulamentos militares.
Aguentei de pé firme todas as tentativas que fizeram para me apoucarem e abocanharem, mas consegui suportar todas incongruências e exageros de toda a ordem. Posicionei-me militarmente onde pude sem auxilios de ninguém. Orientei-me pelo azimute que préviamente tracei, sem ajudas de ninguém resolvi a minha situação económico-militar. Contrariamente alguns desses insolentes, gastrómanos, potomaníacos e sabujos que tiveram que rastejar para conseguirem alguma coisa.
Analisando bem certas atitudes de alguns dos meus camaradas pareciam que a cultura deles se regia por um código principal de sinais exteriores: vestir bem, andar sempre nos petiscos, bebedeiras, desvios às regras da boa educação, usar linguagem não dicionarizada, armarem-se muito importantes, mostrarem que eram militares muito dinâmicos perante os superiores, etc.
Eu apercebi-me de tantas faltas graves, tão condenáveis que foram praticadas por esses insolentes, que fossem julgados pelo que fizeram não teriam hipóteses de continuar na Marinha. Mas alguns superiores da mesma laia abafaram-lhes essas faltas. Os mais perspicazes conseguiram ascender as certos postos que não mereciam quer por terem sido pouco cumpridores como militares, quer pelo baixo grau de literacia. Uma grande parte deles nunca fizeram por crescer literariamente, todos os tempos livres eram dedicados às convivências dos petiscos e a todo o tipo de jogos.

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